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Crítica - Maria Callas

Foto do escritor: Kiviage CastKiviage Cast

“Maria” (2024): Angelina Jolie merece as indicações, mas não merece ganhá-las



Pablo Larraín tem se consolidado como um dos grandes cineastas contemporâneos na abordagem de biografias femininas, especialmente aquelas que exploram a fragilidade e a força de figuras icônicas. Depois de “Jackie” e “Spencer”, ele retorna com “Maria”, uma tentativa de desvendar a complexidade de Maria Callas, a lendária soprano grega cuja vida foi marcada por uma fusão entre o glamour e o sofrimento pessoal. Contudo, apesar de sua beleza estética e de uma atuação sólida de Angelina Jolie, o filme se perde na construção de uma narrativa cativante.


Quem foi Maria Callas?


Conhecida como “La Divina”, Callas transcendeu o universo da ópera para se tornar um ícone cultural. Sua voz inconfundível, técnica impecável e intensa carga emocional em suas performances a tornaram uma das maiores cantoras do século XX. Fora dos palcos, Callas viveu uma vida turbulenta, marcada por romances conturbados, uma relação complicada com sua própria arte e uma busca incessante por reconhecimento e pelo amor.


Uma viagem pela fragilidade


Larraín escolhe retratar Callas em seus últimos anos, uma fase dominada por fragilidades emocionais e físicas que contrastam com a grandiosidade de sua trajetória artística. O diretor, conhecido por explorar momentos íntimos e silenciosos, constrói um filme que é menos uma biografia tradicional e mais uma reflexão sobre a solidão, o fracasso e o peso do passado. Nesse sentido, “Maria” é uma obra de sensações, onde a câmera quase sufocante, os cenários melancólicos e a narrativa desconexa traduzem o estado interior da protagonista.


A escolha de Angelina Jolie para interpretar Maria Callas há méritos. Jolie entrega uma performance digna, em que a vulnerabilidade se manifesta em olhares contidos e gestos meticulosos. Ela consegue capturar a angústia e a dignidade de Callas, especialmente nos momentos em que a personagem enfrenta o vazio de sua vida fora dos palcos. No entanto, algo falta. Embora sólida, a interpretação de Jolie carece de um fator transformador, uma intensidade que vá além da superfície.


Um filme belo, mas no fundo, vazio


Visualmente, “Maria” é irretocável. A direção de arte, os figurinos e a trilha sonora capturam a sofisticação e a elegância que marcaram Maria Callas, criando um ambiente que parece perpetuamente suspenso entre o real e o onírico. Cada quadro revela o cuidado meticuloso de Pablo Larraín em recriar a atmosfera de sua protagonista, mas essa beleza formal não compensa um roteiro que falta em densidade.


Embora o filme consiga nos conectar à vulnerabilidade de Callas, ele falha em transmitir a verdadeira dimensão de sua grandiosidade nos anos de apogeu. Larraín nos apresenta uma artista em ruínas, marcada pela solidão e pelo desencanto, mas pouco nos mostra da força arrebatadora que fez dela um ícone. Sem essa perspectiva, a queda emocional de Callas não atinge o impacto necessário, deixando o espectador admirado pela estética, mas pouco impressionado pela profundidade de sua história.

Larraín parece se perder na contemplação do sofrimento de Callas, esquecendo que, para que a fragilidade dela nos afete plenamente, seria essencial evidenciar o magnetismo e a potência que definiram sua trajetória artística. Assim, o filme se torna uma experiência visualmente marcante, mas emocionalmente contida, incapaz de fazer justiça ao legado de uma figura tão monumental.


Então, vale a pena?


“Maria” é um filme que entrega o esperado em termos estéticos, mas que falha em emocionar acima do óbvio. Para uma figura tão marcante quanto Maria Callas, merecia-se mais: mais intensidade, mais coragem narrativa e mais paixão. Pablo Larraín oferece uma obra bonita, mas que, como um espetáculo sem alma, deixa o público admirado, mas não tocado.


Nota: 2 Acarajés


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