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Crítica - Golpe de Sorte em Paris

Enquanto Tarantino quer encerrar a carreira com 10 filmes, Woody Allen já fez 50



Começo dizendo que Woody Allen não poderia ter escolhido um cenário melhor para retornar às telas. A França, que não se assusta com Gaspar Noé, Catherine Breillat ou Claire Denis, não se espantaria com as histórias que perseguem o diretor estadunidense. Separando a obra das controvérsias pessoais que envolvem Allen, Golpe de Sorte em Paris, seu 50º filme, apresenta uma comédia com “um quê” de suspense que faz valer as 1h30 no cinema. Com estreia em 19 de setembro, a obra quebra o jejum de Allen, após toda a polêmica envolvida em Um Dia de Chuva em Nova York (2019). Apesar de ser estrelado por Timothée Chalamet e Elle Fanning – dois nomes promissores de Hollywood – não foi capaz de vencer o COVID-19 e as polêmicas que vivem à sombra do diretor.


Golpe de Sorte em Paris conta a história de Fanny (Lou de Laâge), uma comerciante de arte, e Jean (Melvil Poupaud), um importante membro da alta-sociedade francesa. Ambos, bem sucedidos no trabalho, aparentemente, também contam com a sorte no amor. Tudo começa a desandar quando Fanny reencontra Alain (Niels Schneider), um antigo colega de escola. Confesso que a apresentação do enredo me fez pensar que Allen tinha desistido da comédia e investido só no romance. 


Embora tenha um início lento, o filme, mesmo com uma continuidade previsível, tem um desfecho que arrancou boas risadas de toda a sala. Não é à toa que a sessão terminou com aplausos, assim como na première em Veneza, em 2023, quando foi lançado. É irônico observar que Fanny e Alain se conheceram em Nova York, ainda jovens e sonhadores, assim como os protagonistas do longa de 2019. 


Apesar de ser o ponto de partida, o despertar da paixão que ameaça o casamento da protagonista se desenvolve inteiramente na vida adulta, mesmo que Alain insista (repetidamente) que já estava apaixonado desde os tempos em que viviam na cidade que nunca dorme. Ao se reencontrarem, Paris se torna o epicentro do filme não apenas como ambientação, mas enquanto costumes e ritmo de vida, deixando para trás o passado e dando palco ao triângulo amoroso de Fanny.


Mesmo que tardiamente, o humor característico do diretor surge, compensando o ritmo arrastado das cenas iniciais, que, apesar das boas atuações, transbordam romance excessivamente. Nesse momento, segurar o riso é uma tarefa difícil. Com maestria, Allen brinca com a sorte do azar e a cada passagem de cena, o filme fica mais e mais divertido, instigante e engraçado.  


Encerro com uma menção honrosa à atuação de Valérie Lemercier como Camille, mãe de Fanny. Embora apareça em um "quarto plano", a personagem é uma peça-chave para construir o grande golpe de sorte - ou azar -  na cidade luz, reforçando os elementos de suspense explorados pelo diretor. Assim, fica o convite para separar a obra do artista - e não ter a expectativa de que seja melhor que Meia Noite em Paris (2011), porque não é.


Nota: 3 acarajés inteiros e 1 mordido

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