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Crítica – Valentina

“O que te incomoda na minha liberdade?”, é o questionamento da protagonista para um dos países que mais matam pessoas transgênero, pessoas cuja sua expectativa de vida é de apenas 35 anos. Assim, Valentina, mais novo filme da Netflix, nos faz encarar a dolorosa realidade de muitas mulheres trans cuja a vida é pautada em medo, mentiras e preconceito.


Estrelando Thiessa Woinbackk (youtuber e influenciadora famosa nas plataformas por falar de suas experiencias pessoas como mulher trans), Valentina, uma menina trans de 17 anos que se muda para uma cidade interiorana com sua mãe, tentando dar novos rumos para sua realidade, o longa nos dá o melhor do cinema brasileiro com suas paisagens que já nos são tão intimas. Com percalços que começam desde o dia um, na dificuldade de localizar seu pai biológico para poder se matricular no colégio da cidade, Valentina ainda tenta dar o melhor de si, tentando viver como qualquer adolescente de sua idade.


O filme é bastante cru, por assim dizer, com um ritmo bem lento e cenas potentes que nos fazem querer olhar para o outro lado, mas é importante encarar essa faceta da nossa sociedade, afinal, a população marginalizada retratada no longa não tem como pausar seus sofrimentos e voltar outra hora. Apesar de ainda recair na narrativa de dores e desgostos fixos no recorte trans, o filme peca um pouco em não explorar melhor a personagem para além de seus problemas, como por exemplo mostrar seus interesses para filmes ou músicas, mesmo que Valentina ouça a mesma música constantemente.


Vale ressaltar que Valentina desenvolve duas amizades bonitas com Amanda (Letícia Franco) e Júlio (Ronaldo Bonafro), os quais acabam se tornando uma espécie de rede de apoio para a garota em momentos chave da trama, e cuja atuação do último citado nos faz querer um filme apenas dele. E obviamente, temos a atuação impecável de Guta Stresser como a mãe de Valentina, Márcia, quem simplesmente é de aquecer o coração em sua interpretação sincera de uma mãe cujo último desejo é ver sua filha passando por qualquer dificuldade.


Um outro debate interessante é sobre homofobia e masculinidade tóxica que se desenvolve principalmente com o personagem Lauro (João Gott), quem antagoniza Valentina com seu jeito duro, preconceituoso e muitas vezes ameaçador, num retrato quase perfeito do que vivemos nos dias de hoje com relação à violência refletida em homens cujo controle foge entre seus dedos.


O filme é como um choque de realidade sincero para aqueles que não tem intimidade com o debate sobre transfobia e realidade das pessoas trans como um todo, mas peca apenas em não acelerar as coisas ou simplesmente nos dar uma narrativa que saia do lugar comum de sofrimento das minorias, que apenas de necessário ser retratado, não é o único espaço onde pertencem.


Nota: 3 acarajés.


Ficha Técnica

Título: Valentina

Ano de Produção: 2020

Roteiro: Cássio Pereira dos Santos

Direção: Cássio Pereira dos Santos

Produção: Erika Pereira dos Santos

Duração: 95 minutos

Elenco: Guta Stresser, Rômulo Braga, Ronaldo Bonafro, Thiessa Woinbackk, João Gott, Letícia Franco, Pedro Diniz

Classificação: 14 anos

Gênero: Drama

País de Origem: Brasil

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