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Crítica - Nu (Djonga)

Atualizado: 20 de mar. de 2021


NU é o 5º álbum de estúdio de Djonga e nos traz uma jornada tanto de autorreflexão quanto de crítica à sociedade, ao cenário do Rap e sempre lembrando daqueles que ama e quer por perto com suas letras ácidas e verdadeiras, que é sua marca registrada.


Toda a jornada de NU começa nas redes sociais com um vídeo publicado onde mostra o Djonga sendo condenado à decapitação por “pensar demais ou de menos, a ponto de se contradizer diversas vezes nos últimos anos”, falando sobre a cobrança que sempre é imposta tanto nele quanto na sociedade atual.





E então chegamos na primeira faixa com o nome Nós, onde ele retrata que tudo que ele fez e faz é por “nós”, negando a crença de que “a gente nasce sozinho e morre sozinho”, mas que aparentemente tudo que faz não é o suficiente para quem vê de fora. Além disso, quando ele diz que o coração dele “parece um balde furado” e que o vazio “acertou em cheio”, se inicia uma narrativa que se estende ao longo do álbum. Em Ó Quem Chega, temos a crítica ao cenário quando diz que muitos tentam ultrapassá-lo, fazendo uma analogia a estar de Ferrari enquanto “eles tentam alcançar de velotrol”. Também traz à tona que ser inteligente é falar o que tem que ser dito de forma que o povo entenda.


Em Xapralá, o Djonga deixa ainda mais claro que esse disco expõe suas feridas onde menciona no refrão “fugindo de mim pra me encontrar”, em que é possível interpretar que ele está tentando encontrar a si mesmo, o Gustavo Pereira, e deixar de ser um personagem como Djonga tentando unir os dois em uma só pessoa. Outra vez ele fala sobre a cobrança em cima dele sentindo saudade de “falar o que pensa sem ter que acertar”. A própria busca por perfeição é pincelada no verso em que ele diz que “quem paga o pato é cisne preto”, referência clara à protagonista de Cisne Negro que perde a sanidade em busca de ser perfeita. É citado também a situação que viveu Lucas Penteado no BBB21, quando pergunta se “é melhor desistir ou viver humilhado?”, fazendo menção aos abusos sofridos por Lucas pela, também rapper, Karol Conka dentro do programa.


Me Dá a Mão traz um Djonga falando das coisas que tem e que conquistou, mas que tudo isso não é tão importante quanto aquela que lhe “dá a mão”, sua esposa. Além de ser um ode ao companheirismo numa relação, a música é também uma homenagem a mulher que o “fez se sentir pequeno, mesmo sendo menor que ele”. Com Vírgula, vemos acidez nas suas letras falando de que sempre é esperado do jovem de quebrada uma vida de criminalidade, porém que ele, “trajadão de vírgula”, lutou para ser o que o que eles não queriam: alguém de sucesso. E, com esse sucesso, ele conseguiu ajudar a sua família e os que estão perto dele, além de inspirar vários outros a correr atrás dos seus sonhos, como o citado Sidoka que também é mineiro.


Ricô, com participação de Doug Now, contrasta com a faixa anterior de uma forma bem inteligente: enquanto Vírgula fala de conseguir as coisas que quer e tornar sua vida melhor, Ricô relembra que só dinheiro, fama e mulheres não são tudo na vida e que tudo isso é fútil e inútil se você não tem amor próprio. Na música ele ainda cita falas de Wu-Tang, Paulinho da Viola e 50 Cent sobre o dinheiro só para ressaltar que as emoções são muito mais valiosas do que bens materiais.


Dá Pra Ser?, com participação de Budah, traz de novo um tom romântico mas dessa vez como uma declaração mútua entre dois amantes que se completam de tal jeito que eles se perguntam “dá pra ser só eu e tu?” e mostram todos seus motivos para acreditarem que daria tudo certo.


E enfim chegamos na faixa que é um tapa na cara de muita gente, Eu. Começando com trechos de reportagens que mostram como a sociedade vê o Djonga: Seja como representante do antirracismo (fala de William Bonner), logo contraposto por uma fala que o desenha como “falso representante”, seja como aquele que “balançou o bagulho” fazendo cair preconceitos (fala de Bial), mas que tem falas que pregam o “racismo contra brancos” (fala de Leonardo Méqui) e que ainda é aquele que fez show na pandemia causando aglomerações. Quando entramos na música conseguimos compreender o sentimento de melancolia que ele quer trazer pois tudo que ele fala parece martelar uma coisa: ele está sempre tentando seu melhor mas esse melhor nunca é suficiente e, em busca de ser suficiente, ele acaba cada vez se perdendo mais do seu próprio eu quando cita que “antes ser eu ele queria ser nós, agora quer ser nós sem deixar de ser eu”.


Aproveito pra fazer um paralelo com uma música de 2018, Junho de 94, onde ele diz que “tirou várias pessoas da depressão mas não consegue dar um só riso” e em Eu ele começa a sentir ainda mais os efeitos disso quando fala que “cuidou de todo mundo e esqueceu de si mesmo”.


No mais, NU é uma obra narrativa que te leva a refletir sobre a importância dos sentimentos e daqueles que o cercam, que isso é principal para a vida e que deve ser tratado como um tesouro. Vale salientar que a produção do Coyote Beatz nesse disco foi impecável, com um som que é muito bom de ouvir e que te faz prestar atenção no que está sendo dito sem ignorar o beat que toca no fundo.


Nota: 5 acarajés e uma coquinha gelada.

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