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Crítica - Cidade Invisível


O folclore brasileiro em uma nova perspectiva


Se você foi uma criança que viveu nos anos 2000 e assistia TV Globinho e O sítio do pica-pau amarelo, você vai entender muito bem do que esse texto se trata. Nós crescemos com a versão da Cuca que era a imagem de uma jacaré loira (muitas vezes com o cabelo mais hidratado do que nosso) com seu fiel escudeiro pesadelo, os dois formavam o núcleo vilanesco da trama que nos dava uma sensação de medo, porém acima de tudo compunha um dos melhores núcleos de comédia da trama infantil.


Porém depois de muitos anos sem nenhum acesso cinematográfico ou midiático desse conto de Monteiro Lobato, a produção da netflix Cidade Invisível nos surpreende com uma versão muito mais adulta desse enredo, do que estávamos acostumados, é como se fosse feita diretamente para as crianças dos anos 2000 que hoje são adultas. Nos trazendo um misto no nostalgia e curiosidade.


Criada por Raphael Draccon e Carolina Munhoz, a série aceitou o desafio de recriar um roteiro infantil com inúmeras criaturas fantásticas e folclóricas especificamente brasileiras, e transformá-lo numa trama policial, muito envolvente com um suspense que desperta a curiosidade do telespectador e te conduz até o final do último episódio. Ao dar play, o roteiro acompanha a vida de Eric que é um detetive da policia ambiental representado por Marco Pigossi, ele é extremamente focado no trabalho deixando sua esposa e sua filha em segundo plano, mas não diminuindo a relação afetiva que ele possui pelas duas. Sua esposa, Gabriela (Julia Konrad), é antropóloga e estava fazendo um trabalho num pequeno povoado chamado Vila Toré, no qual haveria uma comemoração típica, ela o convida e ele recusa (de maneira previsível) porque precisa terminar um trabalho. Assim apenas Gabriela e a filha do casal Luna (Manu Dieguez) vão até a festa, é lá onde acontece uma tragédia que atinge o seu círculo familiar de uma maneira que ele não pode desfazer, entretanto ele carrega a culpa por não ter estado ao lado de sua família num momento de necessidade e essa sombra é o que o conduz durante toda a trama.


A partir disso Eric inicia uma investigação, que a única explicação é impossível aos olhos de um adulto cético, e isso o leva a dolorosamente abrir os olhos para novas possibilidades de realidades, trazendo descobertas não só sobre o caso o qual ele está desvendando mas também sobre a sua própria origem.


A série não trata apenas de uma ideia e um roteiro fantasioso, mas também nos traz questionamentos sobre a desvalorização da história dos ancestrais brasileiros, resultante de um processo de aculturação que sofremos as consequências até os dias atuais. Além de trazer discussões sobre preservação ambiental e dos impactos que a negligência e a irresponsabilidade nos trazem; as consequências que atingem os personagens ao longo da trama podem facilmente se relacionar com os impactos ambientais que vivemos nos dias atuais.


Essa produção teve a iniciativa incrível de ressuscitar nomes como, Cuca, Iara, Saci Pererê e Curupira e trazê-los novamente para o nosso cotidiano como veículo de entretenimento e conscientização, não só isso como, exportar de maneira intrigante a nossa cultura de uma maneira jamais vista, diversa, intrigante e também lucrativa.


Nota: 3 acarajés




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